Um romance delicado e sensível que fala de como as memórias se formam e nos formam
Quando o menino Jan recebe de seus pais a notícia de que os avós vêm morar definitivamente com eles a partir daquele dia, a primeira pergunta que lhe vem à cabeça é: “Posso ficar feliz?”.
Há algo no semblante dos pais que o menino Jan ainda não consegue discernir, mas que sente vividamente. Algo que lhe diz que a vinda dos avós não é motivo de alegria, mesmo com os jantares deliciosos que a avó vai preparar para toda a família e mesmo com os aguardados e inesquecíveis passeios na volta da escola, junto com o avô, quando eles conversam sobre as ruas, sobre a família, sobre a vida e sobre as árvores.
A mudança vai alterar toda a vida cotidiana da família, e Jan vai percebendo outros sinais a princípio indecifráveis, mas que, aos poucos, se farão entender: a sua fome voraz de menino de dez anos que se transforma em falta de apetite, o perfume característico e adocicado da avó que se torna um cheiro azedo e os olhos de todos que, de repente, parecem de vidro e sem vida.
Na casa, agora, as palavras e os silêncios ganham novas nuances.
Enquanto os adultos fazem o possível para que tudo corra como de costume, Jan observa os detalhes ao seu redor e os reúne para entender o que está acontecendo. As conversas entre avô e neto, com perguntas sem respostas e respostas sem perguntas, constroem um mosaico de cenas por onde avança a relação dos dois, cujo fio condutor será a história de um salgueiro-chorão.
A memória da árvore é um romance que consegue, ao mesmo tempo, nos colocar no lugar de uma criança e dos adultos à sua volta, todos confrontados com acontecimentos inesperados, e que fala da transmissão de memórias, de como elas se formam e de como podem se perder.