Um corpo pendurado dos pilares da Ponte de D. Luís, no Porto, Portugal, desafiando uma cidade em transformação, cosmopolita e repleta de turistas. O cadáver de uma mulher abandonado nas colinas do Douro – e a evocação de uma série de crimes no submundo da noite da segunda maior cidade portuguesa.
O que parecem ser dois casos isolados acabam por revelar ligações e caberá ao inspetor Jaime Ramos, o célebre personagem criado por Francisco José Viegas há quase 30 anos, desvendá-las. Vencedor dos prêmios Fernando Namora 2020 e o Pen Clube Narrativa 2020, A luz de Pequim é, nas palavras do autor, “um romance de avaliação de experiências passadas e incertezas atuais”.
José Viegas oferece aos leitores um romance policial fora dos padrões, apresentando uma narrativa introspectiva e por vezes sombria, em que descreve a sociedade portuguesa de forma crua e sem floreados. Aos 60 anos, Jaime Ramos se tornou um inspetor veterano da Polícia Judiciária da zona do Porto e se depara com a passagem do tempo e a efemeridade da vida.
“Eu não trabalho em homicídios para mudar o mundo nem para fazer do mundo um lugar melhor. É mais para castigar os criminosos e cumprir uma função. Crime e castigo. Punição. Vingança. Faço biografias de vítimas, de desaparecidos e de assassinos. É o nosso trabalho, o trabalho dos derrotados. Se quisesse um sítio melhor ia procurá-lo por aí fora”, reflete a certa altura o detetive entre a resignação, o desencanto e o mero senso de dever.
Jaime Ramos é um herói “à antiga”, um homem de grande profundidade psicológica, econômico nas palavras e sempre com o semblante fechado. O passado do detetive e o modus operandi com que solucionou casos anteriores são postos à prova, o que o levará a revisitar toda a sua história – as suas investigações, as suas paixões, o trabalho no Partido Comunista, as suas amizades e inimigos –, numa viagem interior marcada pela nostalgia de um homem desiludido com o mundo.
Um romance denso e crepuscular em que a figura de Jaime Ramos se interroga sobre o sentido de ser português em um país dominado por elites cúmplices, endogamias e poderes ocultos.
A luz de Pequim ganhou o Prêmio Fernando Namora 2020 e o Prêmio Pen Clube Narrativa 2020.