Um frio que assola apenas negros. Um sopro gélido que fez um número incalculável deles desaparecer. Um fenômeno que ninguém acredita ser possível. Este é o pano de fundo deste breve e instigante livro de Oswaldo de Camargo.
Publicada pela primeira vez em 1978, A descoberta do frio é uma grande referência na obra de Oswaldo de Camargo. A provocadora novela relata o surgimento de um frio, algo absurdo, algo inimaginável sob o calor de setembro, que faz um número incalculável de negros desaparecer e no qual ninguém acredita. Cabe a Zé Antunes, protagonista da história, tentar convencer as pessoas da cidade de sua existência. Tudo o que consegue, porém, é indiferença, palavra-chave para esta narrativa.
Assim como em O carro do êxito, A descoberta do frio é um registro que extrapola a ficção para eternizar poetas, jornalistas, ativistas de imensurável valor histórico para o movimento negro, além de uma intimação aos leitores para pensar a questão racial no Brasil. Como afirma o sociólogo Clóvis Moura no prefácio à primeira edição, reproduzido neste livro, Oswaldo de Camargo assume aqui, como negro e como escritor, “uma posição de denúncia e, ao mesmo tempo, de reelaboração estética de um conflito social, político, cultural e étnico”.
Esta edição, que foi revista pelo autor e conta com ilustrações de Kika Carvalho, recupera a atualidade e urgência da obra do incontornável Oswaldo de Camargo.