O premiado Mário Rodrigues transporta o leitor para dois períodos extremamente importantes da história brasileira: a era Collor e a final da Copa do Mundo de 2018, na Rússia.
O protagonista, nascido em 1988 – mesmo ano da nossa última Constituição – é um jogador de futebol consagrado, prestes a cobrar o quinto pênalti do Brasil contra a Alemanha, que já havia convertido os seus cinco. Se fizer o gol, cumpre sua parte e o Brasil pode se tornar hexacampeão, fechando definitivamente a ferida aberta no vergonhoso 7 a 1. Mas, se errar, voltamos à banal condição de vice. Esse instante, congelado no tempo, também é uma chance de se vingar não da Alemanha, mas do próprio Brasil, que tanto negou, confiscou, roubou do seu povo.
Escritor com profundo domínio do seu campo, Mário Rodrigues constrói a narrativa alternando entre a jornada que o protagonista percorreu ao longo de sua vida, o momento em que ele se encontra de frente para o gol e a história do Brasil, valendo-se de uma técnica de escrita que lhe permite driblar a zaga do esquecimento, avançar entre o geral e o particular, até deixar o leitor cara a cara consigo mesmo.