Em seu segundo livro solo, a escritora e jornalista Martha Mendonça confessa que até já pensou em mudar de canal, mas a temática feminina acaba “atropelando as alternativas”. Depois de debruçar-se sobre a realidade da mulher contemporânea em Mulheres no ataque (escrito em parceria com Carla Rodrigues); assumir a ótica feminina de um relacionamento no romance escrito a quatro mãos com o marido (e também jornalista) Nelito Fernandes em Eu e você, você e eu; e incorporar personagens que subvertiam o clichê de que só os homens são cafajestes em Canalha, substantivo feminino, Martha mergulha mais uma vez no universo das mulheres em seu novo romance. E desta vez, em um bastante particular: o das quarentonas. Paula achava que tinha tudo, mas, às vésperas de completar 40 anos, o que lhe parecia garantido vira do avesso: ela perde o emprego e é trocada por outra. Em vez da estabilidade que se espera da tal "meia-idade", ela enfrenta um novo começo. Do vazio e do desespero, nasce uma mulher diferente — e, quem sabe, melhor do que aquela tão cheia de certezas e caminhos marcados. Com uma boa dose de realidade e pureza, mas sem deixar de lado o humor e a ironia característicos de seu texto, a autora traduz bem o que é ser uma mulher de 40: ter os sonhos, a inocência e o medo de uma garotinha perdida que ficou lá para trás, mas ter também a sabedoria, a clareza e a melancolia de uma senhora vivida que a espera lá na frente. Ao contrário da protagonista, a chegada dos 40 para autora aconteceu sem maiores solavancos, exceto por uma “remexida interna”, que a fez pensar bastante no que a idade significava. “Um momento em que a maioria das pessoas imagina que vai estar com a vida – pessoal, profissional, financeira – ganha, prontos para colher, calmamente, os frutos do que foi plantado. Mas obviamente não é assim pra muita gente. Talvez para a maioria”. Pensando nisso, imaginou como seria uma personagem cuja vida virasse de cabeça para baixo justo nesse momento. E assim nasceu Paula, cuja grande virada se dá na descoberta de que ser obrigada a recomeçar, na meia-idade, pode ser um presente do destino.