Encarando A Verdade

Filha única de Ethan Walsh, um famoso pintor do início do século XX, Leonora ganha um belo presente em seu oitavo aniversário: um telhado novo, pintado pela mãe, para sua casinha de bonecas. Quase sete décadas depois, ela decide reunir a família para comemorar seus 75 anos. Naquela noite, porém, Leonora descobre a verdadeira intenção daquele antigo presente. No telhado amarelecido pelo tempo, esconde-se uma surpresa que irá virar pelo avesso a história de sua vida. Comparado ao marcante Os Catadores de Conchas, de Rosamunde Pilcher, Encarando a Verdade, a estréia de Adèle Geras no romance, é uma intensa e complexa saga familiar.Na festa de aniversário, se encontrarão Gwen e Rilla, as filhas que Leonora criou sozinha após enviuvar antes dos 30 anos, a enteada de Rilla, Beth, o marido de Gwen e seus três filhos. E um estranho se junta ao grupo: Sean Everard, o diretor de televisão que prepara um documentário sobre a vida e a obra de Ethan Walsh. Tendo como pano de fundo o transcorrer do século passado, desde a década de 1930, e ambientado no interior da Inglaterra, em Willow Court, na elegante residência do clã Walsh, Encarando a Verdade traça um interessante perfil dos costumes da alta burguesia inglesa e proporciona um rico painel das emoções humanas. Emoções que Leonora não se constrange em manipular: preconceitos, jogos de interesses, mentiras, vaidades, traições, intervenções traumáticas do destino, impossibilidade de comunicação. O importante, sempre, é manter as aparências. Traduzido em vários idiomas, Encarando a Verdade é um livro envolvente. Ao permitir que os leitores compartilhem os pensamentos íntimos das personagens, Adèle Geras destrói a aura de perfeição familiar que a matriarca se esforça em cultivar, mesmo que à custa da própria felicidade e da felicidade de seus descendentes. Além disso, a autora utiliza o recurso de ir e vir no tempo, aumentando o mistério e a expectativa a cada página. Só no desfecho dessa história o segredo virá à tona. Então, erros podem ser perdoados, e frustrações, compreendidas. Mas Geras não impõe uma decisão final: o perdão e a compreensão pertencem aos leitores.