Um dos aspectos da sociedade capitalista que Marx destaca recorrentemente é a incessante escassez de tempo livre à qual somos submetidos. Por isso, não surpreende que seja tão persistente o fenômeno editorial dos livros superficiais destinados ao imenso público das pessoas sem tempo livre para ler com alguma profundidade sobre temas sem relação imediata com seu tempo de trabalho. Como se pode notar, o título deste livro surfa essa onda, mas com uma intenção irônica/crítica. Primeiramente, o conteúdo não é superficial. Há um esforço consciente de tornar o texto acessível, porém sem abrir mão de apresentar com riqueza de detalhes muito do que a Ecologia Marxista tem a oferecer. Em segundo lugar (e mais importante), o “sem tempo” não diz respeito ao cotidiano individual, à rotina massacrante de viver para trabalhar. Diz respeito à encruzilhada histórica em que a humanidade se encontra. Ao longo do livro, discutiremos por que o capitalismo é inviável ecologicamente. Ou seja, veremos que qualquer pretensão de sustentabilidade exige a superação desta sociedade. Paralelamente, também ficará claro que a destruição das condições ecológicas de suporte à vida no planeta já se encontra tão avançada e com tamanha inércia que a ruptura com a sociedade atual se torna não apenas necessária, mas também urgente. Daí extraímos o real significado de “sem tempo”. Eduardo Sá Barreto é professor da Universidade Federal Fluminense, pesquisador do NIEP-Marx e autor de O capital na estufa: para a crítica da economia das mudanças climáticas, entre outros livros, artigos e colunas sobre crise ecológica, crise estrutural do capitalismo e história do pensamento econômico.