Nesses contos, ela presenteia seus leitores com sentimentos de ironia, dureza, amargura contida e até certa perversidade, eu diria, partindo de um olhar aguçado e debruçado sobre a alma feminina. Isso porque grande parte dos seus personagens são mulheres. Mas não seria de uma situação já vivida? Tem-se a impressão de que ela entrou na vida das pessoas e revelou momentos que se acreditava serem particulares, roubando-os e expondo-os publicamente. Chamo a isso de crueldade. Em grande parte dos seus contos, o espaço privado parece ser revelado, ela viola a intimidade mais profunda do seres para entregar ao leitor momentos frágeis da vida humana. Acredito que todo mundo, de certa forma, já esteve numa das situações narrada por ela.
Quem ainda não sofreu por amor? Penso que os leitores ao ler sua obra se sentirão, talvez, invadidos, violados. Pensar nisso até me diverte. Não se está sozinho diante dos seus olhos aguçados, irônicos, duros, marcando momentos humanos dos mais sofridos.
Apresentar essas situações de forma tão poética, tão linda, lembra-me Clarice Lispector, que deixa transparecer em seus livros um pedido ao leitor para se libertar de suas imagens, demonstrar-se, desarticular-se e renascer conforme a medida do texto e, ao lê-lo, passar pelo mesmo processo que ela ao escrever.
Acredito que foi difícil me distanciar da amiga no sentido de só apresentar a criação dela... Mas a vida tem dessas coisas... Tudo vem junto, tudo se entrelaça: vida, ficção.
Desejo que os leitores experimentem o grande prazer que eu tive em ler e viajar através das almas dessas mulheres retratadas por Normalice nesses contos marcantes, próximos da gente... E, por que não, tão nossos?
ISBN-10: 8572780947 ISBN-13: 9788572780940 Páginas: 172 Autor: Normalice Souza