Um casal de escritores, um relacionamento dilacerado e a narrativa intensa do psicanalista Carlos Eduardo Leal compõem o romance A última palavra. De maneira densa, os dois personagens, ele e ela, revelam aos leitores suas vidas de amor, desamor, desilusão, ciúme, indiferença e todo tipo de sentimento contraditório através da angustiante busca da palavra exata para definir sentimentos tão complexos. Escritos em primeira pessoa – ora sob o ponto de vista dela, ora sob o dele –, os textos mostram ao leitor 32 versões dos momentos vividos em comum e dos sentimentos não ditos pelos dois personagens ao longo da relação.
Tudo começa com um encontrão no meio da rua, quando ele tropeça nela, mas segue correndo atrás da bola, como se ela sequer existisse. Para ela, aquele esbarrão fica registrado como o primeiro encontro, a partir do qual ele passa a ter um significado diferente, mesmo que não saiba exatamente qual. São crianças ainda, mas o tempo passa e os aproxima, levando a um relacionamento leve no início, mas que se transforma em uma carga impossível de ser carregada depois de alguns anos.
Ocorre então a separação. Ela sai da casa construída e decorada pelos dois. Ele sobra junto com alguns móveis e, diante do computador, vai escrevendo o nome de todos os objetos que trazem lembranças daquele relacionamento. Como por passe de mágica, basta digitar o nome do que não quer mais ter em casa, para os objetos irem desaparecendo, nem que seja de forma um tanto ilusória. Quando não os faz desaparecer, os esconde com um lençol, enchendo a casa de móveis-fantasmas.
Ele escreve com raiva. Nos textos dela, o sentimento que sobressai é a mágoa. Situações cotidianas revelam o fim do amor, que nem eles mesmos sabem se um dia existiu, mas ao mesmo tempo dão a entender que os sentimentos chegaram a ser inicialmente bons. A culpa do desgaste parece ser sempre do outro, que nunca se esforçou o suficiente para satisfazer as vontades do parceiro. Egoísmo mistura-se com mentiras e cobranças. Ela sente-se culpada por nunca ter tido filhos. Ele nunca conta a ela que fez uma vasectomia antes do relacionamento, pois não queria filhos para perturbar sua vida ordenada.
As mentiras duram até o momento em que escolhem a separação. Difícil não sentir raiva, pena e revolta, tomando partido de um dos dois. A história, como um relacionamento, não é estática e isso torna a obra interessante, literalmente, até a última palavra.
ISBN-10: 9788532524140 ISBN-13: 9788532524140 Páginas: 176 Autor: CARLOS EDUARDO LEAL